Echo Bridge: títulos porcos não são exclusividade brasileira

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O colecionador brasileiro reclama (com razão) das inúmeras barbeiragens cometidas nos Blu-rays lançados pelas produtoras nanicas. Mutilação de imagem, áudio com perdas, ausência de extras, artes grotescas e embalagem ruins são uma constante nos BDs dessas empresas, mas não são exclusividade do nosso mercado. Neste artigo, falaremos sobre a Echo Bridge Entertainment, uma empresa americana cujas práticas (ruins) lembram muito as das companhias brasileiras.

A Echo Bridge é uma empresa sediada em Bevery Hills que fornece conteúdo audiovisual (como filmes e séries) para as redes de televisão norte-americanas. Sua divisão de home entertainment é responsável pelos lançamentos em DVD e Blu-ray nos EUA e Canadá (aqui, por sua subsidiária Alliance Atlantis). Em 2011, a Echo Bridge adquiriu licença para distribuição do conteúdo da Miramax em home video na América do Norte; aqui no Brasil, a Imagem Filmes fez acordo nos mesmos moldes, para a tristeza de alguns. Porém, comparando o nível dos títulos de ambas as companhias, podemos ver que saímos no lucro.

Assim como a Mill Creek, o foco dos títulos da Echo Bridge é o mercado de baixo custo. Como bem sabemos, para manter os preços dos títulos baixo, é preciso sacrificar a qualidade deles. Neste aspecto, a Echo Bridge capricha (só que ao contrário): a apresentação de seus produtos não sai da vala comum do estojo plástico sem arte interna na impressão das capas. Contudo, se ficasse apenas nisso, não seria tão crítico. O problema principal reside na baixa qualidade técnica de seus BDs.

Ausência de extras já seria algo esperado, pois títulos pé-de-boi normalmente são desprovidos de material adicional. Some-se a isto a ausência de legendas (sim, economizam até nisso), autorações em 1080i (em vez dos costumeiros 1080p), baixo bitrate de vídeo (ou seja, qualidade pior de imagem), faixas de áudio apenas em inglês, ausência de áudio HD em alguns títulos e, coroando tudo isso, a mutilação dos filmes nos aspectos 2.35:1 para 1.78:1, a fim de preencher toda a tela das TVs Widescreen.

A pobreza técnica das autorações tem um único objetivo: conseguir colocar mais filmes por disco e lançar coletâneas com dois, três e até quatro filmes por disco. No caso dos Double Feature, as mídias usadas são BD-25; para os Triple e Multi-Feature, são utilizados discos BD-50. Vejamos alguns dos títulos da série Miramax Multi-Feature, com 4 filmes cada:

Hellraiser

  • Filmes: Hellraiser: Bloodline (Hellraiser: Herança Maldita), Hellraiser: Inferno, Hellraiser: Hellseeker (Hellraiser: Caçador do Inferno) e Hellraiser: Hellworld
  • Áudio: Dolby Digital 5.1 / Dolby Digital 2.0
  • Aspecto: 1.78 (sem mutilação)
  • Formato: 1080p

From Dusk Till Dawn (Um Drink no Inferno)

  • Filmes: From Dusk Till Dawn (Um Drink no Inferno), From Dusk Till Dawn 2: Texas Blood Money (Um Drink no Inferno 2: Texas Sangrento), From Dusk Till Dawn 3: The Hangman’s Daughter (Um Drink no Inferno 3: A Filha do Carrasco) e Full-Tilt Boogie (documentário sobre a produção do primeiro filme)
  • Áudio: DTS-HD MA 5.1 (filmes 1 e 3), DTS-HD MA 2.0 (filme 2 e Full-Tilt Boogie)
  • Aspecto: 1.78 (sem mutilação)
  • Formato: 1080p

Jackie Chan Collection

  • Filmes: Operation Condor, Operation Condor 2: The Armour of God (Operação Condor – Um Kickboxer Muito Louco), Project A (Projeto China) e Project A 2 (Projeto China 2)
  • Áudio: DTS-HD MA 5.1 (Operation Condor e  Project A 2), DTS-HD MA 2.0 (Operation Condor 2 e Project A)
  • Aspecto: 1.78 (Operation Condor 2, Project A e Project A 2 mutilados)
  • Formato: 1080p

Children of the Corn (Colheita Maldita)

  • Filmes: Children of the Corn III: Urban Harvest (Colheita Maldita 3: Colheita Urbana), Children of the Corn IV: The Gathering (Colheita Maldita 4), Children of the Corn V: Fields of Terror (Colheita Maldita 5: Campos do Terror) e Children of the Corn 666: Issac’s Return (Colheita Maldita 6: Isaac está de volta)
  • Áudio: Dolby Digital 2.0
  • Aspecto: 1.78 (sem mutilação)
  • Formato: 1080i (filmes 3,4 e 6), 1080p no 5º filme

Wes Craven Presents

  • Filmes: Dracula 2000 (Drácula 2000), Dracula II: Ascension (Drácula 2: A Ascensão), Dracula III: Legacy (Drácula 3: O Legado) e They (Habitantes da Escuridão)
  • Áudio: Dolby Digital 2.0 (Dracula 2000 e Dracula II), DTS 5.1 (Dracula III e They)
  • Aspecto: 1.78 (todos os filmes estão mutilados)
  • Formato: 1080i (Dracula 2000 e Dracula II), 1080p (Dracula III e They)

Já podemos perceber um padrão. Para ilustrarmos ainda mais a (falta de) qualidade desses títulos, faremos uma breve análise do Double Feature Halloween: The Curse of Michael Myers / Halloween H20. Primeiramente, dados técnicos do disco:

Disco:

  • Formato: BD-25
  • Região: ABC
  • Espaço ocupado (total):  22.343.882.782 bytes (20,81 GB)

Halloween 6:

  • Aspect ratio: 1.78:1 (original 1.85:1)
  • Codec vídeo: MPEG-4 AVC 1080i
  • Duração: 1:27:58.139 (h:m:s.ms)
  • Capítulos: 15
  • Espaço ocupado: 11.132.700.672 bytes (10,37 GB)
  • Bitrate de vídeo:  13,992 Mbps
  • Codec áudio: DTS-HD Master Audio
  • Nº de canais / Taxa de amostragem: 2.0 / 48 kHz / 24 bits
  • Bitrate de áudio: 1843 kbps
  • Bitrate total: 16,87 Mbps
  • Gráfico de bitrate (vídeo):

Halloween H20:

  • Aspect ratio: 1.85:1 (original 2.35:1)
  • Codec: MPEG-4 AVC 1080p
  • Duração: 1:25:58.820 (h:m:s.ms)
  • Capítulos: 15
  • Espaço ocupado: 10.707.204.096 bytes (9,97 GB)
  • Bitrate de vídeo:  13,992 Mbps
  • Codec áudio: DTS-HD Master Audio
  • Nº de canais / Taxa de amostragem: 2.0 / 48 kHz / 16 bits
  • Bitrate de áudio: 1637 kbps
  • Bitrate total: 16,60 Mbps
  • Gráfico de bitrate (vídeo):

Vejamos agora algumas capturas:

Realmente é um resultado muito aquém do que se espera para o formato Blu-ray. O espaço ocupado por cada um dos filmes é pouca coisa maior que o espaço disponível em um DVD-9, o que indica um nível de compressão elevado, que cobra seu preço em qualidade. Mas a desatenção não fica só nisso: existem também artefatos advindos do processo de codificação de vídeo, como mostra a captura abaixo:

Este tipo de erro deveria ter sido detectado durante a autoração, comprovando que o quick & dirty (rápido e sujo) faz parte da filosofia de trabalho da Echo Bridge. O que dizer de uma empresa que usa o padrão de autoração de um disco em outro, mas se esquece de alterar o título (o disco Halloween está com o nome From Dusk Till Dawn)?

E se engana quem acha que basta apenas pegar as edições standalone, que vem apenas com um filme, para se livrar do problema. A codificação dos títulos quádruplos é exatamente a mesma utilizada nos títulos triplos, duplos e simples! O único jeito de se livrar da baixa qualidade dos títulos da Echo Bridge é não comprá-los. Por incrível que pareça, embora pertençam ao mesmo grupo, os títulos canadenses da Alliance são muito superiores aos da Echo Bridge. Para a sorte do consumidor americano, nem todos os títulos da Miramax estão licenciados pela Echo Bridge, apenas os lançados pela Dimension Pictures. Por isso filmes como Jackie Brown, Sin City e Mutação, por exemplo, saíram pela Lionsgate em edições de excelente nível técnico.

Para finalizar, é inevitável que voltemos nossos olhos para a Imagem Filmes, detentora dos direitos do catálogo da Miramax no Brasil. Às vezes ela age como a Lionsgate, respeitando o aspecto original das obras, incluindo áudio HD, extras e imagem de qualidade (p. ex., Pulp Fiction); às vezes ela age como a Echo Bridge, com títulos de baixa qualidade técnica, sem extras e com imagem mutilada (p. ex., Pânico 4). Com o futuro lançamento da trilogia Um Drink no Inferno em Blu-ray em um único disco, começo a imaginar se a Imagem Filmes tende, a partir de agora, a explorar mais seu lado Echo Bridge. Um panorama assim não seria nada positivo para nós, colecionadores.

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