Coluna do Fonseca: PS4K NÃO!

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Hoje (17) a Sony anunciou o preço do PlayStation 4 no Brasil: absurdos R$ 4 mil. QUATRO. MIL. REAIS. A notícia repercutiu durante todo o dia e foi destaque em redes sociais como Twitter e Facebook, além de grandes portais, como G1 e UOL. A Sony aponta os altos impostos e encargos do Brasil como responsável pelo preço, sem entrar em maiores detalhes.

Que a carga tributária no Brasil é absurda, todo mundo sabe. Nós colecionadores temos particular experiência nesse sentido, vendo diariamente produtos chegarem por aqui a preços astronômicos. O problema é que mesmo com tal carga tributária, muitas empresas praticam margens de lucro surreais por aqui.

Para aproveitar a concorrência entre a Microsoft e a Sony, vamos pegar o futuro Xbox One como exemplo. Com preço nos Estados Unidos de U$ 500 (cerca de R$ 1080), o novo console chegará ao Brasil por R$ 2200. O absurdo da carga tributária está aí. Porque se você por acaso acha que “tudo bem” pagar mais de dois mil reais por um videogame, sua visão de mundo e realidade é completamente deturpada. Não estou dizendo que é errado comprar tal produto, mas que mesmo comprando precisamos ter ciência de que é, sim, um absurdo.

O PlayStation 4 será vendido por US$ 400 nos Estados Unidos, US$ 100 a menos que seu principal concorrente. Esse, aliás, tem sido um dos fatores decisivos na pré-compra dos dois consoles, conforme mostram pesquisas realizadas por lá. A Sony batalhou para estabelecer esse preço, contando com a venda de agregados (controles, jogos) para cobrir o valor de produção de cada unidade, que terá prejuízo nas vendas em seu lançamento.

No Brasil, a empresa segue o caminho oposto do que tem buscado no hemisfério norte. O PS4, mais barato que o Xbox One na Europa e Estados Unidos, chegará por aqui mais caro que o concorrente. Quase duas vezes mais caro. Essa matemática é que choca. Os impostos também existem sobre o produto da Microsoft. Apesar da empresa de Bill Gates possuir fábrica no Brasil, o Xbox One não está sendo fabricado por aqui. E fosse “apenas” o tributo para o governo, mais uma vez essa matemática da Sony não bateria, pois simulações de compra do console no exterior com os tributos já pagos mostram que o valor seria quase metade desses R$ 4 mil.

Há outros fatores que os especialistas poderão detalhar melhor, como lucro de lojas, outros encargos, mas no fundo nada disso explica o valor exorbitante, já que concorrentes como Microsoft e Nintendo (que nem sequer atua oficialmente no Brasil) trabalham sobre as mesmas regras e impostos. Em algum momento da conta do PS4 para o Brasil, uma margem absurda de lucro foi colocada para alguém.

Se você é desses que defende empresas como a própria mãe, bom, espero que nem esteja lendo esse texto. Gosto de pensar que estou falando com pessoas de bom senso. Para esses, digo que o fato de podermos parcelar compras aqui no Brasil tem que deixar de servir como desculpa para as empresas praticarem preços abusivos. Mais uma vez, os impostos no Brasil são um dos nossos grandes problemas: impossibilitam o acesso aos bens, afundam o abismo entre quem tem pouco e quem tem muito e atrasam o crescimento da nação em longo prazo, mas o que discuto aqui é a ganância particular das empresas.

O que esse anúncio da Sony mostra na verdade é que eles estão pouco se lixando para o mercado brasileiro. Os números por aqui são difíceis de conseguir e muito nebulosos, mas nenhuma empresa em sã consciência colocaria em risco todo um mercado caso fosse significante para eles. E essa é uma das conclusões que tiro: o Brasil não faz diferença nenhuma para a Sony e o PlayStation. Os motivos, por falta de dados, não posso saber. Mas as ações da empresa, desde o descaso com os consumidores até a relação com a imprensa, falam por si.

Uma das respostas que tenho para vocês, caros leitores do BJC, é a seguinte: PRATELEIRA NELES! Eu já cansei de dizer isso por aqui, desde 2009. Claro, há sempre o infeliz que decide pagar R$ 2 mil por uma edição, mesmo com a importação saindo mais em conta. Gostaria de pensar que com R$ 4 mil a situação será diferente, mas sei que sempre haverá um sem noção para quebrar essa barreira. Porém, esse valor é tão proibitivo que acredito que o destino do PS4 no Brasil, a esse preço, será juntar poeira nas lojas (mesmo que inicialmente as unidades disponíveis devam ser poucas).

Na Amazon americana, no momento em que escrevo esse artigo, o PS4 não está disponível. Mas realizei uma simulação de compra na Amazon UK, com o frete mais caro (e mais rápido), com todos os impostos já inclusos, e o valor em reais para ter o console em minha casa chegou a R$ 2165 (sem IOF do cartão). Quase metade do preço cobrado por aqui. Fosse nos EUA, em dólar, a quantia seria menor. (Aliás, para quem resolver fazer isso, recomendo a compra pelo frete que já cobre os impostos. Duvido que um item com esse tamanho e desse valor não seja tributado quando chegar aqui. Além disso, esperar meses pela encomenda que pode ficar encostada nos cantos da Receita Federal não me parece uma boa ideia.)

AMAZON UK PS4

Temos que valorizar mais nosso dinheiro. Não importa se você ganha um salário mínimo ou vinte. Nosso dinheiro é fruto de nosso trabalho e não deve ser entregue sem pudor apenas porque as empresas assim querem. O poder, como sempre, está em nossas mãos. Vejam o ponto absurdo a que chegamos: os R$ 2200 do concorrente se tornaram “barato”. Há algo muito errado nisso tudo e parte da culpa, infelizmente, está nos consumidores brasileiros. Desde quem paga R$ 8 por um pão e salsicha em um estádio, passando por quem paga R$ 400 em uma edição especial de Blu-ray, até quem paga mais de R$ 30 mil por um carro “pelado” e acha que é um bom preço.

O custo de vida no Brasil é absurdo e esse é um assunto muito mais complexo e profundo do que posso almejar debater aqui em alguns poucos parágrafos.

Mas Sony, PS4K NÃO!

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Link para a loja do PS4 na Amazon UK

(você só será cobrado no cartão de crédito na data do envio)