“Temos que salvar o Blu-ray!”
Keith Phipps escreveu para o site The Dissolve um artigo intitulado “Como tornar o Blu-ray relevante novamente”, em que levanta questões que ajudariam a manter o formato relevante e apreciado nos dias de hoje. Os argumentos são muito bons, universais, embora mercados distintos tenham suas particularidades. É engraçado, por exemplo, ler nos comentários do artigo consumidores americanos reclamando do preço de vinte e poucos dólares praticado pela Disney em seus títulos, enquanto por aqui enfrentamos preços bem mais absurdos para nossa realidade financeira, aliados à uma qualidade inferior do produto vendido. R$ 59,90 por uma edição simples, apenas em Blu-ray, ou R$ 89,90 por uma edição que traz também o Blu-ray 3D. Ambas sem capricho na apresentação, sem sobrecapa, sem cópia digital ou em DVD.
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Assim como Phipps aponta em seu texto, muito já se debateu sobre “o fim da mídia física” e o avanço da distribuição digital. O assunto parece ter consenso hoje em dia e números que suportam isso. O futuro do home video estará (se já não está) no streaming, por diversos motivos, que vão desde o preço até a praticidade. A mídia física, no entanto, não morrerá, simplesmente. Uma cópia física de um filme é muito mais confiável que uma versão digital, sujeita à conexões de internet e disponibilidade de catálogo. (Até mesmo filmes rodados digitalmente recebem cópias em película para arquivo, ainda a maneira mais confiável de conservação.) Quem assina a Netflix ou serviço similar provavelmente já passou pela frustração de procurar um título que havia reservado para assistir e descobrir que foi retirado do catálogo. Nesse sentido, nada mais garantido do que a boa e velha prateleira.
Foto de parte da coleção de Ricardo Rocha, leitor do BJC.
Como a maioria dos leitores do BJC já deve saber bem, a mídia física fica cada vez mais relegada aos colecionadores dedicados. O Blu-ray jamais alcançará a popularidade do DVD, que continua sendo a opção de escolha para o público mais casual. Aliás, até mesmo das produtoras, que continuam a lançar títulos apenas em DVD (notadamente séries) em pleno 2015. Mesmo sendo um mercado de nicho, há dinheiro a ser ganho e por isso os títulos continuam sendo lançados. Mas como mercado de nicho, diversas produtoras e distribuidoras parecem não compreender que seu público é mais exigente e espera qualidade à altura dos preços e do formato. Infelizmente, o Caray! continua com assunto a ser noticiado.
Phipps aponta que a apresentação é muito importante, como bem sabemos, e que um exemplo a ser seguido deveria ser o da Criterion Collection (Amém). Cada título deles recebe tratamento caprichado e personalizado na embalagem, qualidade de áudio, imagem e extras do disco. Aqui no Brasil, no entanto, ainda estamos um passo atrás, como comentei no início sobre os lançamentos da Disney. Sobrecapa (ou luva, para os íntimos) ainda é algo raro de se ver nos lançamentos em Blu-ray (algo bem mais comum na América do Norte, Europa e Leste Asiático). Se um filme custa entre R$ 59,90 e R$ 89,90 no lançamento, sem embalagem caprichada, sem extras atraentes, sem combos que tragam DVD e cópia digital, quais as chances de mesmo o colecionador mais dedicado, mas que ganha um salário médio por aqui, comprar esse filme? Diria que são poucas. E quando colocamos a distribuição digital e até mesmo a pirataria na equação, fica fácil perceber que por aqui as distribuidoras não estão sendo muito espertas em cultivar e manter seu público consumidor.
Os já citados extras são muito importantes também, mas andam minguando tanto aqui quanto no exterior. Lembram-se da quantidade de extras que “Homem de Ferro” trouxe em DVD e Blu-ray? Triste constatar o que ocorre nos lançamentos mais recentes da Marvel/Disney em home video, por exemplo, com pouquíssimos extras e do tipo que podemos ver no YouTube. Nem todo colecionador assiste a todos os extras, muito menos logo de cara. Mas é inegável que quem coleciona valoriza muito isso. Nada é mais frustrante, nessa nossa paixão, que uma edição sem extra algum, sem embalagem caprichada e com um preço absurdo, considerado “normal” pelas lojas e distribuidoras.
Vídeo em que mostro o DVD de “Homem de Ferro”.
O público colecionador que quer possuir um filme, uma série em definitivo, quer que essa palavra tenha peso. É uma paixão pelo ato de colecionar e/ou pela obra que passa a valer aqui, e em ambos os casos desejamos possuir algo que justifique o investimento. Não queremos pagar caro por um produto que não é completo. Não queremos pagar caro por um produto para vermos uma versão superior sendo lançada poucos meses depois. Aliás, não queremos pagar caro. “Preço justo” é o mantra aqui. Demanda há, como provam edições especiais e limitadas que se esgotam em segundos ao redor do mundo, encomendadas por lojas como Kimchi DVD (Coreia do Sul), Zavvi (Reino Unido) e Future Shop (Canadá).
“No estrangeiro” a quantidade de títulos lançados é muito maior que aqui no Brasil, mesmo que por lá eles reclamem disso também. O agravante aqui talvez seja o fato do Blu-ray ainda ser tratado como produto de luxo, com muito descaso e desrespeito com o consumidor. Com isso, nem mesmo os títulos mais populares alcançam os mesmos números de venda do DVD e o investimento em títulos “menores” some.
O Blu-ray é um formato maravilhoso para os amantes do cinema e da qualidade de som e imagem em geral. Formatos em mídia física com mais definição podem até surgir, mas passarão a depender muito do tamanho de nossas TVs e de nossas salas para justificarem o investimento. O Blu-ray nos oferece a experiência mais próxima da incomparável sala de cinema, e isso é dizer muito. Nós, colecionadores, continuaremos colecionando. Basta que as empresas se deem conta de que todos têm um limite. Espero que o atual tratamento dado ao formato por todas as distribuidoras aproxime-se mais da Criterion Collection que da Várner. O futuro da mídia física e do colecionismo agradece.
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