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por Csandiego » Sex 11 Abr 2014 08:34
Pobre do Olaf, hehehe. Bom, ao contrário dos que não veem a importância narrativa do personagem, eu percebi algumas coisas desde a primeira vez que vi no cinema e como estou chegando perto da minha 20ª vez vendo o filme (é, eu sei, hehehe), quero compartilhar umas coisas. Peço desculpas de antemão pq ficou enorme e deixo desde já o aviso de SPOILERS pros desavisados.
Resumindo antes de explicar, o Olaf é um olhar - e acaba sendo a personificação - do amor da Elsa pela Anna e tem uma razão p/ isso estar no filme.
A referência mais óbvia do Olaf é à infância da Elsa e da Anna e a profunda ligação entre as duas - a Elsa fazendo a voz do Olaf e a Anna respondendo que o ama enquanto imediatamente troca um olhar carinhoso com a irmã diz tudo: elas se amam. Daí p/ frente vemos a separação das duas (com uma breve aparição do Olaf na memória modificada da Anna enquanto o troll mestre a cura - e como me dói terem tirado da música a referência direta a ele na versão em português [a caçula não quer apenas brincar na neve, ela quer fazer um boneco de neve!]), a Anna criando a imagem de que a irmã é uma pessoa fria, intocável, (uma verdadeira rainha da neve, hehehe) etc. ... até o renascimento dele na sequência do "Let It Go" enquanto a Elsa, que passou a maior parte da primeira fase do filme em um ciclo de medo e insegurança, se sente livre e feliz consigo mesma - qual foi a primeira coisa que ela fez? Literalmente remontou sua lembrança mais feliz, algo que ela compartilhava apenas com a irmã.
Olaf encontra a Anna por acaso e aí vem mais uma ligação óbvia com a Elsa: o bordão/frase de efeito, o que faz com que a Anna o reconheça na hora. Eu poderia forçar uma interpretação de "In Summer" como um paralelo com "Let It Go" no qual a Elsa/Olaf quer uma vida mais livre/ensolarada (fazendo contraste com a limitação/prisão dele de depender do inverno), mas gosto de pensar que essa é mais uma música bonitinha. Vale ressaltar aqui que, apesar dele ter acabado de conhecer a Anna, o Kristoff e o Sven, ele já os inclue como amigos (quiçá família?) no sonho de verão. Pequena nota aqui pro Olaf ser aquele que insiste que a Anna bata na porta quando eles chegam ao castelo. Estou mencionando aqui pq explorarei o significado das portas quando for falar do clímax do filme mais p/ frente. Antes de continuar, Olaf e Elsa se conhecendo e ela entendendo a extensão dos poderes - e ela tb percebeu (ou deveria ter percebido, já que nós percebemos antes dela) que ele personifica o amor dela pela irmã.
Continuando, na parte que Anna, Kristoff, Sven e Olaf chegam no santuário dos trolls, aqui foi dita uma coisa que me chamou a atenção na primeira vez que vi o filme (dublado!): o Olaf, ao insistir que a Anna fugisse quando vê o Kristoff falando com as pedras, diz que a AMA ("Because I love you, Anna, I insist you run."). De onde veio esse amor? De quem mais, ora, da Elsa!
Agora vem a parte mais complicada e tb mais significativa: as portas. Durante todo o filme vimos portas abrindo e fechando e sendo mencionadas nas músicas e aqui vem o principal: uma das músicas literalmente diz que "(o) amor é uma porta aberta". Vimos as ocasiões das portas fechadas: o medo da Elsa separando-a da Anna no começo antes de "Do You Want to Build a Snowman" e as sofridas batidas não correspondidas por anos; a Elsa se isolando do mundo no fim de "Let It Go"; o Hans enganando a Elsa e trancando-a na prisão; o Hans traindo a Anna e trancando-a na sala deixando-a p/ morrer. Vimos portas abertas como sinônimo de felicidade e novas chances em "For the First Time in Forever"; a Anna batendo na porta do castelo de gelo e ela abrindo (contraste com as vezes nas quais a Elsa não abriu quando era mais nova); a Elsa declarando no final que nunca mais fechará os portões e ... voltando ao assunto principal, o Olaf, ele abrindo a porta (e a janela) para salvar a Anna (e tb a Elsa, apesar deles não saberem disso no momento) - lembrem que o Kristoff não ia chegar a tempo e a Elsa nem sabia que a Anna estava lá. Ele vai além e também se mostra capaz de se sacrificar por ela, como a Elsa fez ao se manter afastada p/ não machucá-la, ao acender o fogo E dizer que "por algumas pessoas vale a pena derreter" ("Some people are worth melting for"), ressaltando que p/ ele derreter é abdicar da própria vida. Em um momento no qual vimos a Elsa afundar cada vez mais em uma espiral de medo e desespero desde que o trio (A, K, O) foi expulso do castelo pelo Marshmallow, que era a personificação de um outro aspecto da Elsa (medo e agressividade), e a invasão do local pelos capangas do duque, uma parte dela ainda insistia no amor, não deixando a otimista Anna se conformar e desistir de tudo e possibilitou que ela (Anna) fizesse o grande gesto de amor verdadeiro pela irmã.
Bom, estão aí minhas observações sobre a relevância narrativa do Olaf. Se tem algum personagem que serve de objeto e objeto de graça é o Sven - deram a ele comportamento de cachorro e ele serve como meio de transporte. Fora isso, a importância dele é externalizar o conflito interno do Kristoff, já que ele é introspectivo e não tem intimidade com outras pessoas, ele conversa com ele mesmo. É equivalente aos animais da floresta (com os quais a Aurora conversa) e ao cavalo do Príncipe Felipe de "A Bela Adormecida", das gárgulas d'"O Corcunda de Notre Dame" e tantos outros, ao contrário da importância p/ a história do Maximus de "Enrolados", do Lumière e os outros objetos encantados de "A Bela e a Fera" e do Pip de "Encantada" p/ citar alguns.
Por sinal, falando no Marshmallow, vcs viram a cena pós-créditos com ele? É engraçadinha, hehehe.
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Csandiego em Sex 11 Abr 2014 12:50, em um total de 1 vez.
"Be without fear in the face of your enemies. Be brave and upright that God may love thee. Speak the truth always, even if it leads to your death. Safeguard the helpless and do no wrong. That is your oath." (Kingdom of Heaven, 2005)