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A 600 KM acima da Terra a temperatura oscila entre 125 e -100 graus centígrados.
Não há nada para transmitir som.
Não há pressão atmosférica.
Não há oxigênio.
A vida no espaço é impossível.
Gravidade faz tudo certo de formas grandes e pequenas. É lindo e assustador, detalhado mas enorme, cientificamente específico mas universalmente compreensível. Sim, é sobre como o espaço pode ser um lugar maravilhoso e hostil, mas também sobre a “fragilidade e tenacidade humanas” (Érico Borgo, Omelete).
O filme, que já ganhou vários prêmios em festivais internacionais, é magnífico de todos os pontos de vista e favorito ao Oscar. Alfonso Cuarón fez algo muito mais difícil que os outros filmes que estamos acostumados a assistir. Ele estabeleceu a sua história em um ambiente real complexo, com exigências rigorosas de iluminação, física e geografia. Ele recriou as limitações muito estritas do espaço para sua equipe e tornou-as reais para o público. Muito, muito reais mesmo. Este sim, pode ser considerado o filme revolucionário desta geração.
Com atuação e tom precisamente controlados, Cuarón nos torna parte da história de uma forma sem precedentes. Sentimos como se realmente estivéssemos assistindo George Clooney (Matt Kowalski) e Sandra Bullock (Dra. Ryan Stone) no espaço, lutando para sobreviver. A trilha sonora de Steven Price, que tem a tarefa de transmitir sensações em um filme que se passa num ambiente onde não há som, é meticulosamente ligada a cada cena e acentua de forma grandiosa os acontecimentos, bem como as emoções.
Ryan Stone é uma engenheira médica em sua primeira missão espacial. Ela é toda comprometida, centrando-se em fazer tudo certo, compreensivelmente nervosa neste estranho e complexo cenário. O que acontece lhe faz redefinir seus pensamentos sobre sua vida, seus amores e perdas. Aceitar a morte iminente lhe faz perceber o quanto ela sentirá falta da “mãe Terra”, por mais que sua vida tenha se resumido a “dirigir e trabalhar”. Ainda que extremamente especifica, a jornada dessa mulher é uma espécie de modelo, uma metáfora de uma jornada de qualquer ser humano enfrentando adversidades.
Do outro lado está Matt Kowalski, um veterano astronauta em sua última missão. Convincentemente interpretado por Clooney, ele é calmo, competente, corajoso e abnegado, tudo que espera-se que um astronauta seja. Kowalski flutua ao redor do telescópio Hubble com um jet-pack nas costas, brincando com o Controle da Missão, tocando músicas country no rádio e contando histórias do espaço.
De repente, os dois só têm um ao outro. Desconectados da Terra, correndo contra o tempo e recursos, em busca de um caminho de volta para casa. E quando parece que as coisas não poderiam ficar pior, é claro, elas ficam. Com o desafio de transmitir uma história no menor dos caminhos e na mais apertada das circunstâncias, Bullock nos dá a melhor interpretação de sua carreia, uma cujo o impacto deve ser lembrado por anos e capaz de conseguir seu segundo Oscar.
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