Post do Leitor: 2011-2012: The Golden Age of Blu-ray? [Painel da Comic Con]

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Foto do painel. Da esquerda para direita: Bill Hunt, Todd Doogan, Adam Jahnke, Charles de Lauzirika, George Feltenstein e Cliff Stephenson.

por Lug Quelhas

Na tarde do primeiro dia da Comic Con de San Diego aconteceu um painel que tinha como objetivo discutir o mercado de Blu-ray nos Estados Unidos. Colecionador invetarado que sou, e seguidor fiel do Blog do Jotacê, não poderia perder a oportunidade de constatar os pensamentos e opiniões de colecionadores e produtores norte-americanos dos discos que tanto amamos.

Estavam presentes no painel Bill Hunt, que mediou a conversa, Todd Doogan e Adam Jahnke, todos do conhecido site Digital Bits; Charles de Lauzirika, produtor dos futuros BDs Transformers: O Lado Oculto da Lua, The Amazing Spider-Man e Prometheus; Cliff Stephenson, produtor dos BDs Rambo, Os Mercenários, Adrenalina 2 e Ghost Rider: Spirit of Vengeance; e finalmente George Feltenstein, Vice-presidente Sênior e Diretor de Marketing dos Filmes de Catálogo da Warner Home Video, que falou mais e deu as melhores opiniões e esclarecimentos sobre o mercado norte-americano de home video.

Antes de mais nada devo dizer que ficou evidente durante toda a discussão, que durou aproximadamente uma hora, a paixão de todos os participantes da mesa pelo formato Blu-ray. Foi unanimidade de todos o fato de que não existe maneira melhor de se assistir a um filme do que na mídia Blu-ray em uma televisão Full HD ligada a um Home Theater. Não existe nenhum streaming ou download ou transmissão de televisão que rivalize com a qualidade do Blu-ray. Todos repetiram isso mais de uma vez.

George Feltenstein contou a todos que o Box do Senhor dos Anés Estendido em Blu-ray está vendendo incrivelmente bem. Apesar de não ter fornecido números, disse que as vendas estão bem acima das expectativas iniciais da Warner, o que gerou uma forte onda de aplausos da plateia.

Em seguida Feltenstein começou a falar de um sistema novo implementado pela Warner norte-americana chamado MOD, ou Movie On Demand. Isso nada mais é do que oferecer ao consumidor os milhares de filmes e séries de televisão de catálogo da Warner em mídias físicas personalizadas. O colecionador vai até o site da companhia, escolhe o filme ou seriado que deseja, escolhe a capa e a Warner produz esse único Blu-ray ou DVD e envia pelo correio. Sensacional, não? Feltenstein disse que esse mercado está indo muito bem, comprovando a tese de que a mídia física nunca morrerá porque, nas palavras dele, “As pessoas querem ter os discos na sua prateleira”. Ainda sobre o mercado de filmes em catálogo, o representante da Warner Home Video complementou dizendo que nem sempre as coisas saem do jeito que eles imaginam e que, por exemplo, o Blu-ray book do King Kong original de 1933 custou centenas de milhares de dólares para ser remasterizado e produzido e, infelizmente, não vendeu bem, para tristeza do Jotacê que adora esse BD.

A seguir Bill Hunt chamou o tema principal do painel. Estamos hoje na Era de Ouro do Blu-ray? Entende-se por era de ouro o lançamento de títulos clássicos em edições especiais. A opinião majoritária era de que estamos sim em uma Era de Ouro, assim como o DVD teve esse período no início dos anos 2000. Lançamentos como O Senhor dos Anéis estendido, quadrilogia Alien, e os futuros lançamentos de Star Wars e Ben-Hur comprovam essa tese. Fica aqui o parênteses para uma discussão brasileira. E nós? Será que estamos em uma Era de Ouro do Blu-ray por aqui? Vale a reflexão. Curioso também a informação dos produtores de que os BDs de lançamentos vendem muito bem, mas as vendas dos filmes de catálogo continuam patinando. A explicação mais óbvia para isso é que muitos colecionadores já possuem esses filmes e que pensam duas vezes antes de gastar dinheiro comprando mais uma versão do filme.

Nesse ponto o assunto da discussão passou a ser a qualidade dos filmes. No lado positivo a quadrilogia Alien foi citada como padrão ouro atualmente de remasterização em alta definição de filmes em catálogo. George Feltenstein disse que o padrão de filmes ainda mais antigos será a edição de 50 anos de aniversário de Ben-Hur a ser lançada em setembro. Segundo ele o filme possui a mais espetacular qualidade de imagem possível para um filme antigo, sendo a melhor remasterização que ele viu na vida. É esperar para ver. O foco no lado negativo foi mesmo o uso excessivo de DNR (digital noise reduction) na transferência de filmes para a alta definição. Assunto que já foi abordado no Blog do Jotacê inúmeras vezes. Apesar de o famoso caso Predador não ter sido citado, a primeira versão de Gladiador em BD foi o exemplo claro do que não deve ser feito em uma transferência. Felizmente o erro nesse caso foi corrigido com a nova versão do filme. Esclareceram que muitos problemas em lançamentos anteriores aconteceram devido a tecnologias de remasterização antigas. O caso citado foi o do filme Carruagens de Fogo que possui um remaster de 2004 que custou caríssimo na época e que hoje tem que ser jogado no lixo e refeito.

Ainda na questão da qualidade, foi interessante perceber que os colecionadores norte-americanos enfrentam exatamente os mesmos problemas que nós brasileiros. Um exemplo claro é a eterna briga entre leigos e aficionados no assunto razão de aspecto. Todos na mesa foram claros em suas experiências tentando ensinar as pessoas que os filmes devem manter seus formatos originais preservados, e que as famigeradas “tarjas pretas” não são ruim, muito menos defeito. Engraçado que um pouco mais adiante uma pessoa da plateia reclamou do letterbox (formato que contém as tarjas pretas) ao fazer uma pergunta aos integrantes da mesa. Provando que o problema é mesmo sério. O pessoal foi paciente e educado respondendo que devido às inúmeras diferenças de formatos de filmes as tarjas pretas sempre existirão. Também concordaram que é papel da indústria cinematográfica educar a população com relação a toda essa gama de assuntos técnicos. Para se ter noção de como as coisas ainda precisam evoluir, um dos produtores citou o caso de um executivo (ou Zécutivo…) de um grande estúdio de Hollywood que nem sequer tem um player de Blu-ray em casa. Inacreditável.

O assunto 3D também surgiu, e todos foram unânimes em concordar que a tecnologia só será definitiva quando o uso obrigatório dos óculos for abolido. E que por enquanto ela é revolucionária e útil apenas em jogos de videogame.

Com relação a futuros lançamentos, George Feltenstein falou dos lançamentos de Tom e Jerry e Looney Tunes em Blu-ray em outubro. Tom e Jerry foi todo remasterizado a partir dos negativos originais e, segundo ele, está absolutamente fantástico. A coleção Looney Tunes será completa, inclusive com desenhos inéditos em DVD. Mas a melhor notícia é de que se Tom e Jerry vender bem a Warner tem planos de lançar em alta definição os clássicos do gênio Tex Avery!

Com o fim do painel chegou o memento do sorteio de edições especias para os integrantes da plateia. Sortearam Senhor dos Aneis estendido em BD, o novo Box do Superman em BD e várias edições especiais de Blade Runner em DVD. Eu, que não ganho nem par ou ímpar, obviamente não levei nada.

Todo esse painel serviu para mostrar que pessoas que amam filmes e se importam com qualidade estão trabalhando dentro dos grandes estúdios e produtoras. Mas elas também tem que lutar contra um sistema em que o dinheiro é o item número um da lista. Cabe a cada um de nós colecionadores exigir sempre o melhor produto em nossas prateleiras.

Um grande abraço.

LuG Quelhas é criador e editor da revista em quadrinhos Tweenz! e podcaster do ArtsiderCast. Também é colecionador de filmes há mais de 12 anos e entusiasta absoluto do formato Blu-ray.

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