Neste mês de março de 2022, comemora-se o centésimo aniversário do longa Nosferatu (Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens), dirigido por Friedrich Wilhelm Murnau.

Pôster original do filme

No dia 4 de março de 1922, foi realizada a pré-estreia do longa no Salão de Mármore do Jardim Zoológico de Berlim. Os convidados foram orientados a se vestirem com trajes do século XIX e, além da exibição do filme com a trilha sonora original, composta por Hans Erdmann, tocada ao vivo pela orquestra Otto Kermbach, houve a realização de uma festa a fantasia, com a presença dos principais cineastas da época.

A estreia oficial ocorreu alguns dias depois, em 15 de março de 1922, no Primus-Palast, famoso cinema situado na cidade de Berlim nos anos 20 e 30.

O filme foi um grande sucesso de público e crítica, dando sequência ao Expressionismo Alemão, movimento cinematográfico dos primeiros anos da Republica de Weimar. O pessimismo da sociedade alemã pós-Primeira Guerra Mundial, da qual o país havia saído derrotado, era retratado nos filmes do período, através de seus temas e imagens, geralmente distorcidas e não-realistas.

Sempre lembrado como um dos filmes mais importantes da história do cinema, Nosferatu sobreviveu ao tempo, influenciando cineastas e outros artistas, mesmo tendo sido proibido e quase totalmente destruído alguns anos depois de seu lançamento.

Condenação por plagio a determinação de destruição de todos os rolos do filme

Nosferatu narra a história de um agente imobiliário, Hutter, que viaja até o castelo do Conde Orlock, um vampiro que espalha o terror pela região de Bremen na Alemanha e que se apaixona por Ellen, a esposa de Hutter.

A sinopse é familiar, não é? Nosferatu foi notoriamente baseado no livro Drácula, publicado pela primeira vez em 1897 e escrito pelo romancista irlandês Bram Stoker, falecido em 20 de abril de 1912, dez anos antes do lançamento do longa de Murnau nos cinemas.

Edição de Drácula da Darkside no Brasil, que simula a primeira edição da obra lançada no mundo

Os produtores do filme tentaram adquirir os direitos do livro para adaptar oficialmente a história do Conde Drácula ao cinema; contudo a viúva de Stoker, Florence Balcombe, detentora dos direitos na época, recusou-se a atender ao pedido e vetou a produção do filme.

Com isso, Murnau e os produtores fizeram algumas alterações na obra e rodaram o filme mesmo assim: “Conde Drácula” virou “Conde Orlok”, “Jonathan Harker” passou a ser “Thomas Hutter” e sua esposa “Mina” passou a se chamar “Ellen”.

As alterações, é claro, não foram suficientes e Florence entrou com uma ação judicial para o reconhecimento do plágio, com a consequente compensação financeira dos herdeiros e a destruição das cópias do filme.

Em 1925, apenas três anos após o lançamento do longa, o juiz do caso reconheceu o plágio e determinou que todos os rolos do filme fossem destruídos. E assim foi feito.

Ocorre que, com o sucesso do longa, cópias foram enviadas para diversos cantos do planeta, inclusive para os Estados Unidos da América, local em que, por um erro em seu registro de propriedade intelectual, o livro de Bram Stoker já se encontrava em domínio público e, portanto, não poderia ser alvo de plágio.

A obra de Murnau somente sobreviveu em razão desse descumprimento da ordem judicial, do erro de registro nos Estados Unidos e, é claro, da preservação das cópias que não foram destruídas.

As edições do filme em mídia física

Quase destruído e perdido para sempre, Nosferatu permanece vivo também graças as suas diversas edições em mídia física.

Presença fundamental em cineclubes e videolocadoras especializadas em clássicos, Nosferatu recebeu diversas edições nos primeiros formatos de mídia física, como Betamax, VHS e Laser Disc.

Edição de Nosferatu em Betamax
Edições em VHS dos EUA, Alemanha e Brasil
Nosferatu em Laser Disc

No Brasil, o filme recebeu uma edição em VHS pela distribuidora Continental Home Video. A mesma empresa lançou o DVD, que também fez parte da Coleção Expressionismo Alemão, juntamente com os filmes Golem, O Gabinete Doutor Caligari, Fausto e A Última Gargalhada.

 

A duvidosa edição da Continental foi, por muitos anos, a única em DVD aqui no Brasil. Em 2015, contudo, a Versátil Home Video relançou o longa, a partir de uma nova restauração, como parte do primeiro volume da Coleção Vampiros no Cinema. A edição trazia em seus extras o documentário Nosferatu: a Linguagem das Sombras (53 min.).

 

Quatro anos depois, a Versátil trouxe nova edição do filme em DVD, desta vez em Edição Dupla, sendo o primeiro disco com o clássico de Murnau e o segundo com o longa Nosferatu – O Vampiro da Noite (Nosferatu: Phantom der Nacht, 1979), do cineasta Werner Herzog.

Nessa nova edição do filme de 1922, o filme foi apresentado tanto na versão restaurada pela Fundação Murnau em 2013, como na versão de 1995 do British Film Institute.

Ainda, o primeiro disco da coleção, apenas com a obra de Murnau, posteriormente foi lançado em edição individual do longa, tendo inclusive sido parte do Box Rosebud #30 “Cinema Alemão na Era de Weimar”, um dos últimos lançados pela empresa.

Nos Estados Unidos, o filme foi lançado em Blu-ray, em edição com dois discos, pela Kino Lorber, através do selo Kino Classics. O filme foi apresentado em sua remasterização em alta definição e com duas versões: original, com Intertítulos em alemão ou com os intertítulos em inglês. A trilha original de 1922, composta por Erdmann, havia sido regravada, com opção em 5.1 Surround e 2.0 Stereo. Nos extras, estava o documentário Linguagem das Sombras, também presente na edição em DVD da Versátil.

No Reino Unido, o longa foi lançado em Blu-ray pela Eureka!, pelo selo The Masters of Cinema Series, com comentários em áudio, vídeo exclusivo do cineasta Abel Ferrara e um livreto com ensaios, além do documentário Linguagem das Sombras. A empresa lançou, ainda, uma versão do longa em Steelbook.

Em 2015, a BFI Video lançou nova edição em Blu-ray na Inglaterra, a partir de uma nova restauração, além da trilha sonora composta por James Bernard, aclamado compositor das trilhas clássicas de horror do Estudio Hammer.

A Imagem do Conde Orlok e os colecionáveis de Nosferatu pelo mundo

A representação imagética do Conde Orlok, com sua postura encurvada, longos dedos e unhas afiadas, rosto de roedor e dentes incisivos afiados, é uma das mais marcantes do cinema de horror.

Tanto é verdade que sua imagem é constantemente referenciada em outros filmes e outras mídias. Por exemplo, no recente O Que Fazemos Nas Sombras? (What We Do in the Shadows, 2014), de Jemaine Clement e Taika Waititi, o vampiro de oito mil anos, Petyr, é caracterizado exatamente como o Conde Orlok. O filme, aliás, recebeu recentemente uma ótima edição em Blu-ray pela Versátil.

Da mesma forma, a adaptação do livro homônimo de Stephen King em minissérie, Os Vampiros de Salem (Salem’s Lot, 1979), de Tobe Hooper, também se utiliza da figura de Nosferatu para criar o vampiro principal do filme.

Com uma imagem tão icônica como essa, é claro que existem diversos colecionáveis do Conde Orlok.

O conde recebeu, por exemplo, suas versões nos colecionáveis da Neca Toony Terrors, Mego e Funko!

Aos que gostam de Action Figures, a Mezco Toys lançou uma edição em escala 1:12, com diversos acessórios.

A Sideshow também lançou sua versão do personagem, em busto realizado a partir de ilustração do brasileiro Amilcar Fong, e em formato Premium em escala 1:4.

Ainda relacionada ao filme, a trilha sonora composta por James Bernard recebeu uma edição em vinil vermelho-transparente duplo, gravado pela City of Prague Philharmonic Orchestra.

A Hi-Def Ninja lançou, ainda, Pins colecionáveis que vinham em case que simulavam antigas caixas de fita VHS.

Outros filmes do Expressionismo Alemão lançados em Mídia Física

Vários filmes do Expressionismo Alemão foram lançados em DVD pela Obras-Primas do Cinema, na ótima Coleção Expressionismo Alemão, que contou com quatro volumes, além da Coleção Dr. Mabuse, do cineasta Fritz Lang, filmes que, segundo alguns historiadores, marcaram o encerramento do curto período do movimento expressionista.

A mesma empresa lançou, ainda, a excelente edição em Blu-ray do clássico expressionista O Gabinete do Dr. Caligari (Das Cabinet des Dr. Caligari, 1919), do cineasta Robert Wiene.

Vale lembrar que a Obras-Primas do Cinema lançou, ainda quando se chamava Colecione Clássicos, O Testamento do Dr. Mabuse em Blu-ray, única edição no formato de alta definição pela empresa com seu antigo nome.

Já a Versátil Home Video, além das edições do próprio Nosferatu, lançou em DVD e Blu-ray o clássico Metrópolis de Fritz Lang que, apesar de não se considerado como parte do movimento Expressionista, já que foi lançado no final da década de 20, é um dos principais filmes do Entre Guerras na Alemanha.

Gravação da live transmitida no Instagram sobre o tema deste artigo:

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